A dor é conhecidamente um importante sinal de que algo errado está acontecendo em alguma parte de nosso organismo. A partir de uma lesão tecidual, substâncias inflamatórias são liberadas no local onde houve a lesão, e então estas substâncias quando entram em contato com as terminações nervosas daquele local, acabam disparando o sinal elétrico da dor. Este sinal elétrico por sua vez trafega por várias conexões de neurônios até chegar no cérebro em frações de segundos, tornando então consciente o fenômeno dor de modo quase instantâneo. Muitas medicações anti-inflamatórias e analgésicas têm como alvo principal inibir a produção dessas substâncias inflamatórias no local da lesão, e assim diminuir a dor aguda.

Entretanto, quando o sinal da dor persiste por muito tempo ou quando não tratado corretamente, a dor deixa de ser apenas o sinal/sintoma DOR AGUDA e passa a ser uma disfunção neuronal chamado DOR CRÔNICA. É muito comum encontrarmos nas emergências pacientes com dor crônica sendo medicados para dores agudas. Assim, pacientes com neuralgias, cefaleias, dores de coluna de longa data, dores articulares crônicas dentre outras dores crônicas são equivocadamente medicados com analgésicos comuns e anti-inflamatórios. Estas medicações não terão os efeitos preteridos por uma simples razão: o foco da dor não está mais no local onde foi a lesão, a dor aguda sofreu o fenômeno de centralização da dor. Isto ocorre devido o excesso de sinalização elétrica nas conexões entre os neurônios na via da dor, que de tanto sofrerem descargas elétricas oriundos do estímulo doloroso acabam por “bagunçar” todas as conexões neuronais. Sendo assim, o paciente pode até amputar a perna que lhe dói que mesmo assim a dor será sentida como se a perna ainda estivesse lá. Este fenômeno é chamado de dor fantasma.

Usualmente dizemos aos nossos pacientes com dor crônica que a dor está centralizada na medula e no cérebro e não mais no local inicial da dor, e por isso a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, com outros alvos e outros tipos de medicações. Assim, a dor crônica pode levar o paciente a alterações psicológicas como depressão, ansiedade, etc, e por isso a necessidade de um acompanhamento psicológico. Da mesma forma, outros profissionais da saúde podem entrar no mesmo caso (neurocirurgião, neurologista, anestesista, reumatologista, ortopedista, acupunturista, fisiatras, fisioterapia, enfermagem, nutrição, dentista, etc) dependendo da demanda do paciente e tipo de dor.

As medicações para tratamento de dor crônica deverão ser diferentes da dor aguda (analgésicos comuns, anti-inflamatórios). Comumente, usa-se nos casos de dor crônica medicações como antiepilépticos, antidepressivos, antipsicóticos, etc. Devido à atipia da prescrição destes medicamentos, não é incomum os pacientes lerem a bula da medicação e voltarem desesperados para o médico achando que houve algum erro, ou mesmo não tomam a medicação e mudam de médico. Por isso também a necessidade de se atuar na reeducação do paciente com relação ao entendimento do fenômeno dor crônica, melhorando a adesão ao tratamento.

Felizmente com o avanço da medicina vêm crescendo os métodos terapêuticos para corrigir estas conexões neuronais aberrantes na via da dor e promover o alívio da dor. Estes métodos são as principais ferramentas usadas no chamado TRATAMENTO INTERVENCIONISTA DA DOR. Como exemplo, temos os procedimentos realizados apenas com agulhas (bloqueios e infiltrações dos nervos e coluna, rizotomia por radiofrequência, vertebroplastias) e outros com pequenas incisões (implantes de bomba de morfina e implantes de eletrodos de neuroestimulação cerebral ou medular). Normalmente a alta hospitalar é no mesmo dia da intervenção e às vezes em até algumas poucas horas no sistema hospital-dia. Os pacientes candidatos a estas terapias são os portadores de dores na coluna, alguns tipos de cefaleia, neuralgia do trigêmeo, dor facial atípica, dores oncológicas, dor complexa regional, dor do membro fantasma, neuralgia pós-herpética, dor do lesado medular e outros tipos de dores neuropáticas.

A segurança destes procedimentos aliados a poucas horas de internação e o retorno precoce às atividades do cotidiano fazem com que cada vez mais os pacientes procurem estes métodos para o alívio de suas dores crônicas.